Imagine você ser a personificação do adversário a ser enfrentado quando Helio e Carlos Gracie formataram o Jiu-Jitsu. Imagine saber que a esmagadora maioria do público está contra você sempre que você entra para lutar apenas porque o seu adversário é bem menor. Imaginou?
Pois Gabrielle Garcia, 25 anos, vive tais situações desde o início da carreira. Por muito tempo, a faixa-preta da Alliance sofreu com isso e se revoltou contra aqueles que a apupavam e vibravam com cada revés. Há algum tempo, porém, Gabrielle decidiu transformar os apupos em motivação e não mais em ira. A nova mentalidade somada à dedicação exclusiva aos treinos, levaram Gabi a um novo patamar como competidora e a alçaram ao estrelato no mundo do Jiu-Jitsu.
Em entrevista exclusiva a gaúcha que treina como poucas e poucos falou sobre como mudou a atitude e passou a se concentrar apenas na luta. Gabi falou também da saudade da família que vive no sul, do número de fãs que cresce a cada dia e da possibilidade de ficar frente a frente com outra “big girl”da arte suave, a americana Lana Stefanac.
Blog GRACIEMAG no Mundial: No Mundial 2007, você perdeu uma luta para a Ana Carolina Vidal e a Pirâmide veio abaixo ao ver uma atleta menor vencer uma maior. De que forma aquela derrota influenciou na virada que você deu na sua carreira?
Gabrielle Garcia: Acho normal as pessoas torcerem para a menor e eu já me acostumei com isso. Até me ajuda na hora das lutas, porque me motiva mais. Eu sempre gostei de competir e de lutar campeonatos, mas na faixa-roxa ainda não era tão dedicada quanto sou hoje, ainda não tinha o Jiu-Jitsu como profissão. Dividia meu tempo entre faculdade, trabalho e treino. Foi depois do Mundial 2007 que decidi que queria viver do Jiu-Jitsu e então tranquei minha faculdade e passei a dedicar meu tempo apenas ao treino. Acho que tudo tem a hora certa de acontecer e se não tivesse passado por situações de aprendizado como aquela, talvez eu não estivesse onde estou hoje.
Blog do Mundial: Você se preocupa em convencer o público de que suas vitórias são fruto de treino e de técnica e não do seu tamanho e força?
Gabrielle: Até um tempo atrás eu queria mostrar que as pessoas estavam erradas ao meu respeito, mas minha postura também não era das melhores. Eu ia contra o publico e lutava para mostrar às pessoas que elas estavam erradas. Hoje em dia isso não acontece mais pois sei que ninguém é invencível. Se quando o Roger toma uma queda no Mundial, o público vibra, porque iria ser diferente comigo? Eu luto porque amo competir e porque quero sempre estar melhor que no campeonato anterior. Fico feliz quando consigo fazer alguma técnica nova, quando consigo mudar meu jogo. As pessoas estão vendo minha dedicação e o quanto eu busquei me aperfeiçoar tecnicamente. Por isso, o resultado está aparecendo e hoje em dia tenho bem mais reconhecimento das pessoas e passei a ser uma pessoa querida pelo publico.
Blog do Mundial: O destaque que você tem na mídia especializada em Jiu-Jitsu a torna uma referência para outras meninas. Você pensa nessa responsabilidade de popularizar o Jiu-Jitsu feminino?
Gabrielle: Estou muito feliz com esta fase da minha carreira. Fico impressionada com as pessoas me elogiando, perguntando sobre o meu treinamento, minha alimentação, pedindo para tirar fotos. É muito gratificante saber que você é espelho para outras pessoas. Fico feliz em chamar a atenção para o feminino, abrir oportunidades que ainda não existiam. Penso nessa responsabilidade e treino cada dia mais para evoluir e continuar me mantendo no topo. As pessoas vem me falar que querem ser como eu. Uma menina já me falou que pensa em mim na hora de entrar pra lutar porque lembra da minha determinação. É muito bom ouvir que você é exemplo, que querem ser igual a você. Isso não tem valor que pague.
Blog do Mundial: Lana Stefanac lutará o Mundial 2011. Você já a venceu em Abu Dhabi, mas um novo duelo entre vocês duas concentra a sua atenção em relação ao Mundial 2011?
Gabrielle: Lana é uma grande adversária que eu respeito muito e é também uma pessoa humilde. Perdi para ela no Mundial 2009, o que me fez aprender muito. Foi também um momento de grande virada na minha carreira. Consegui vencê-la em Abu Dhabi em uma luta muito dura e queria muito ter a oportunidade de lutar com ela de novo. Estou treinando muito forte para o Mundial. Há dias que tenho vontade de chorar de tanto cansaço e posso dizer que estou pronta para buscar peso e absoluto. Vou dar meu máximo.
Blog do Mundial: A sua família mora no Rio Grande do Sul e você mora e treina em São Paulo. Como lidar com a saudade e manter o foco no treinamento e nas competições?
Gabrielle: Minha família já está acostumada com a minha ausência nas reuniões familiares. Nunca estou e quando estou não bebo ou estou de dieta. Faz anos que não passo o aniversario do meu pai com ele, que é meu maior fã e incentivador, pois é na véspera do Mundial e eu já estou viajando. Por isso, meu maior presente pra ele é voltar pra casa com o titulo. Tenho certeza que ele fica feliz pelos meus resultados. Sem minha família, eu não chegaria a lugar algum. Ano passado passamos por uma fase difícil, com o falecimento da minha avó e eu não pude estar com ela nos últimos dias. Eu transformo todas as dificuldades que tenho em motivação para vencer e mantenho meu foco nos meus objetivos. Tenho certeza que minha família tem muito orgulho de mim.
fonte: http://www.graciemag.com/pt/2011/05/blog-e-muito-bom-ser-exemplo-gabrielle-garcia/
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