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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Família e amigos de Holyfield falam da trajetória do pugilista após incêndio


Família e amigos de Holyfield falam da trajetória do pugilista após incêndio  (Foto: Ingrid Maria Machado/ G1BA)Sobrinhos e irmã de Holyfield
lembram do incêndio
(Foto: Ingrid Maria Machado/ G1BA)
No bairro de Massaranduba, em Salvador, não é difícil encontrar a casa do morador mais ilustre da região. Reginaldo Nascimento, mais conhecido como Holyfield, ainda não teve alta do Hospital Geral do Estado, onde permanece internado por conta de queimaduras que sofreu ao salvar os sobrinhos Mariana e Samuel, de 13 e 3 anos, do incêndio que atingiu a casa onde as crianças moram.
A família do ex-pugilista vive em um sobrado, sendo que Holyfield e a mãe, Dona Maria de Lourdes, moram no térreo, enquanto sua irmã, Almerinda, fica no andar de cima com os dois filhos. Quando o fogo começou ele subiu a escada em direção ao segundo andar, arrombou a porta, entrou na casa e enfrentou as chamas para salvar as crianças.
Sem condições financeiras de mudar para outro lugar, Almerinda e seus filhos continuam morando na residência atingida pelo fogo. Com marcas do incêndio, a parede da sala ainda registra a memória daquele acidente que a sobrinha Mariana prefere não lembrar.
“Eu não gosto de falar sobre aquele dia. Só sei que foi terrível, fiquei com muito medo. Gritei para chamar minha avó e meu tio subiu para nos salvar", conta a menina. Ela estava dormindo em um colchão, quando o irmão de três anos subiu em uma cadeira para pegar um fósforo que estava no alto da estante da sala. Ela acordou com o sofá e o colchão em chamas.
As pessoas esqueceram dele, como fogo no papel. Acabou o boxe, acabou a fama. Ele estava parado, quando ele precisava de transporte era a irmã dele que dava. Reginaldo estava vivendo completamente da gente, ele não tinha dinheiro"
Dona Maria de Lourdes, mãe de Holyfield
A mãe das crianças não estava no local no momento do incêndio. “Eu tinha ido ao hospital fazer um exame. Quando me ligaram, fiquei desesperada”, conta. Ao lembrar de Holyfield, ela se emociona.
“Eu só tenho a agradecer a ele pela vida dos meus filhos, apesar do que ele está passando, e que ele me desculpe pela 'arte' que meu filho fez, que eu acho que não foi por querer. Foi um momento de traquinagem do menino. Quando eu penso me corta o coração. Eu já era grata a ele, porque eu sempre o vi como um vencedor, agora eu vou ser grata ainda mais”, diz.
No hospital, o ex-pugilista fala do resgate dos sobrinhos. "Vendo o sofrimento, a necessidade, nós acabamos não querendo nem saber o que vai acontecer. Foi muito fogo, eu me queimei muito, eu caí dentro do fogo, eu desmaiei", conta Holyfield.
TreinosReginaldo Holyfield conquistou seis títulos brasileiros e quatro sulamericanos. No início dos anos 90, ele era o principal pugilista baiano. Quando Acelino Popó de Freitas ainda fazia as primeiras lutas como profissional, Holyfield já era uma estrela.
"Eu comecei em uma preliminar de Holyfield, onde eu fazia todas as preliminares dele que era nomeada como irmãos freitas", lembra Popó.
Há três anos, Holyfield não disputava uma luta profissional. No início de 2011 ele foi convidado a fazer três lutas, uma em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, outra em São Paulo e outra luta que ainda não tinha local definido, mas poderia acontecer no México. “Quando comecei a trabalhar com Holyfield, ele estava com 102 kg, três dias antes do incêndio ele estava com 87 kg. A meta era ele chegar a 79 kg. Ele é persistente, não se entrega às dificuldades. Ele comentava que ia ser campeão de novo”, diz Thiany Rebouças, preparador físico do boxeador.
holyfield (Foto: Ingrid Maria Machado/G1)"Nós ainda acreditamos nele. Com a história do incêndio, Holyfield se mostrou mais guerreiro", diz treinador Tinho Galíca (Foto: Ingrid Maria Machado/G1)
Desde o início de 2011 ele voltou a treinar no Galícia Boxe, tradicional centro de treinamento no bairro Fazenda Grande do Retiro. O treinador da academia, conhecido como Tinho Galícia, diz que ele voltou a lutar por questões financeiras e por amor ao esporte. “Ele queria voltar por amor ao esporte, ele queria voltar a ganhar dinheiro, porque precisava. Nós ainda acreditamos nele. Com a história do incêndio, Holyfield se mostrou mais guerreiro, mais herói”, avalia.
Família e amigos de Holyfield falam da trajetória do pugilista após incêndio (Foto: Ingrid Maria Machado/ G1BA)Rede de supermercados mandou
cestas básicas para a família
(Foto: Ingrid Maria Machado/ G1BA)
Doações
O preparador físico diz que foi preciso que acontecesse o incêndio para que as atenções fossem voltadas novamente para Holyfield. “Governo nenhum nunca ajudou Holyfield. Agora, com o internamento, é que o Governo do Estado está ajudando em alguma coisa lá no hospital. Mas, antes disso, ninguém estendia a mão. Ele ia treinar duas vezes ao dia, com uma alimentação precária para quem estava no ritmo que ele estava, nós treinávamos de domingo a domingo. Muitas vezes comprei suplemento alimentar para ele porque ele não tinha condição”, completa.
Uma rede de supermercado de Salvador mandou 12 cestas básicas para a família do ex-boxeador. A advogada de Holyfield, Denilza Sanches, diz que a comunidade está contribuindo com doações de diversos produtos. “Já recebemos produtos como cremes de beleza de marcas famosas, passagens de avião, pacotes turísticos. Estamos arrecadando tudo e quando ele sair do hospital vamos realizar um bingo e reverter todo o dinheiro para ele”, explica.
Quem também iniciou uma campanha solidária para Holyfield foi o artista plástico baiano Leonel Mattos. Até agora ele já conseguiu 14 quadros e uma escultura doadas por outros artistas. “Os artistas chegam ou mandam seus quadros aqui para a minha galeria. Eles também serão vendidos ou sorteados no bingo. Já recebemos quadros de artistas até de São Paulo”, diz. Mattos conta que há quadros avaliados entre R$ 400 e R$ 6 mil. “Espero que outros artistas se sensibilizem, porque a arte também é solidariedade”, finaliza. 
holyfield (Foto: Ingrid Maria Machado/G1)Mãe do ex-pugilista fala das dificuldades enfrentadas
(Foto: Ingrid Maria Machado/G1)
A mãe de Holyfield conta que a dificuldade financeira aconteceu ainda quando ele estava no auge, já que o dinheiro que ele ganhava era dividido por quatro pessoas. “Tudo era para pagar treinador, luvas, empresário e para ele. O boxe melhorou a vida para ele aprender. As casas foram minhas filhas que fizeram. Reginaldo foi uma presença no momento, mas tudo foi jogado fora como um copo d’água. As pessoas esqueceram dele, como fogo no papel. Acabou o boxe, acabou a fama. Ele estava parado, quando ele precisava de transporte era a irmã dele que dava. Reginaldo estava vivendo completamente da gente, ele não tinha dinheiro”, desabafa a mãe.
O boxe pode até ter acabado para Holyfield, mas o sorriso dos sobrinhos ao lado de Almerinda serve de incentivo para sua recuperação. "Regi, eu já te amava e o meu amor multiplicou mais ainda", declara a irmã.
 Recado do ídolo
A experiência vivida pelo Holyfield baiano comoveu Evander Holyfied, ex-campeão mundial dos pesos-pesados. Dos Estados Unidos, ele mandou um recado para o ex-pugilista. "Eu diria para ele que as coisas que ele fez foram bem feitas e estou honrado que o chamem de Holyfield, porque eu sou o tipo de pesssoa que teria feito a mesma coisa. Espero que as pessoas no Brasil percebam o que ele fez e que ele se erga novamente", diz.
Sobre a mensagem enviada pelo norte americano, o lutador baiano se declara feliz com a homenagem e retribui o carinho. "Ele é meu ídolo né, Holyfield falando essas coisas da gente... Eu fiquei muito feliz porque eu não tinha nada dele. Eu era um matador, um perseguidor, mas ter o nome do campeão Holyfield, que para mim é o melhor dos melhores. Não existe lutador com tanto potencial, tanta habilidade, com tanta qualidade, rapaz, tanta técnica, eu nunca vi. O boxe vai perder um campeão do mundo e nós não sabemos se vai chegar outro igual àquele Holyfield, porque ele era completo", diz.
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