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domingo, 18 de dezembro de 2011

Sem esquecer derrota, Lyoto Machida só pensa na revanche: 'Ficou entalado'


O desmaio que determinou a derrota para o campeão dos meio-pesados Jon Jones ainda está vivo na cabeça de Lyoto Machida. Talvez por isso, a palavra ''revanche'' seja a que mais ecoa em sua mente desde o UFC 140. Com a maturidade adquirida em anos nas artes marciais, o brasileiro soube reconhecer o mérito do adversário, mas, com instinto vencedor, garante que já está na contagem regressiva para a revanche diante do americano.
- Depois de um derrota como essa, a única coisa que eu gostaria era uma revanche imediata com o Jon Jones. Por toda a situação que aconteceu. Cheguei próximo de pegá-lo. Ficou entalado - disse Lyoto.
Lyoto Machida, UFT 140 (Foto: AP)Jon Jones finalizou Lyoto Machida no segundo round do UFC 140 em Toronto, no Canadá (Foto: AP)
Em uma entrevista exclusiva ao SPORTV.COM, Machida revelou sua frustração por ter conseguindo entender o jogo de Jones e, mesmo assim, ter sido finalizado. Além disso, questionou a pressão que teria recebido do juiz para voltar à luta depois de ter aberto o supercílio, afirmando que precisa de mais tempo para se recuperar.
Sincero, Lyoto também revelou que as imagens fortes protagonizadas em sua luta e no combate de Rodrigo Minotauro contra Frank Mir, também no UFC 140, ainda são fortes demais para o público brasileiro, mas, por outro lado, conta os dias para ganhar sua oportunidade de lutar no seu país.
Confira a entrevista completa:
Olhando em retrospecto, você acha que a luta com o Jon Jones veio cedo? Acha que podia ter feito uma luta antes pra adquirir ritmo?
Acho que veio na hora certa sim. Como eu já tinha dito, tenho 33 anos, já fui campeão e já perdi o cinturão. Meu retrospecto é bom e tem de tudo. Estou maduro. Aconteceu o que todo mundo viu, não deu para trazer o cinturão de volta. A luta estava boa, movimentada, mas acabou sendo decidida em um detalhe. Como ele venceu, acho que eu poderia ter vencido.
Acha que o seu desempenho no primeiro round apontou um caminho para os futuros desafiantes do Jones seguirem?
Eu acho que sim. O meu primeiro round mostrou que existem brechas no jogo do Jon Jones. Eu sabia que encontaria o caminho para essas brechas. Estava só esperando o momento certo. É bom para o futuro adversário. Porque ninguém é invencível.
Se você pudesse fazer algo diferente do que fez contra o Jones, o que seria?Usaria mais o meu tempo de recuperação. Depois que ele me acertou a cotovelada e o juiz parou a luta, eu não conseguia enxergar, tinha muito sangue no meu olho. Não tive o tempo necessário para voltar. Tinha direito a isso. Se pudesse voltar, esperaria mais para me sentir pronto, mas fizeram pressão para voltar. Lógico que a luta está ao vivo e tinham que me pressionar. Mas poderia ter tido mais tempo.
Você disse que tinha uma surpresa preparada para o Jon Jones. Teve tempo para utilizar?Poxa, não deu tempo. Infelizmente foi rápido e não encontrei a forma de usar no decorrer da luta. Fica para a próxima.
Você foi melhor do que o Jon Jones no primeiro round, mas dois juízes deram 10-9 para ele. O que achou disso? Acha que ganhou? A arbitragem do UFC tem sido um problema?
Os critérios de avaliação tem que ser analisados de uma forma melhor. Não pode (ser assim). Vale muito para a carreira de um atleta. Tudo tem de ser muito bem colocado. É uma carreira em jogo. Na minha opinião, teria de haver um placar eletrônico, onde a gente saberia quem votou em quem e o placar. Porque você às vezes acha que ganhou, mas na verdade perdeu. Além disso, os juízes também passariam a ser analisados e, quem sabe, cometeriam menos erros.
 
Tanto você quanto o Minotauro optaram por não desistir de suas lutas mesmo com golpes encaixados. No seu caso, foi apenas circunstância da luta em que considerou que dava para suportar?
Queria chegar até o final e precisava aguentar o máximo que podia. No meu caso, foi estrangulamento. É uma situação diferente. Eu estava tentando sair do golpe, pensando ''preciso sair, preciso sair'', ainda com consciência. Só que acabei indo além e, do nada, acabei apagando. Na hora, eu apenas estava sentindo um desconforto forte, mas ainda estava tentando tirar a mão dele, mas de uma hora para outra, não dava mais e apaguei. Não senti nada na hora. Na realidade, segundos antes, eu achava que ainda dava. 
A sua luta e a do Minotauro, no UFC 140, foram de cenas fortes para os fãs. Você acha que o público brasileiro já está pronto para combates mais ''agressivos''?
Sinceramente, acho que o Brasil não está pronto para isso. Desde que cheguei, tenho ouvido pessoas falando coisas como ''você não precisa passar por isso pelo dinheiro''. Mas não é isso. É o público que não está pronto para esse tipo de situação. Não desmaiei pelo dinheiro, e sim pelo esporte, pelo lado de competir. Acho que isso pode vir com o tempo. Mas, por enquanto, ainda choca o país. Foi um evento forte de se ver e isso espantou todo mundo.
Independente de quem será seu próximo adversário, você gostaria de enfrentar o Shogun uma terceira vez? Desempatar a série?Sinceramente? Depois de um derrota como essa, a única coisa que eu gostaria era uma revanche imediata com o Jon Jones. Por toda a situação que aconteceu. Cheguei próximo de pegá-lo. Ficou entalado. Mas sou profissional, aceito a luta que vier.
Você já treinou com Anderson Silva, e agora enfrentou Jon Jones. Conhece os estilos de ambos. É certo afirmar que Jon Jones é a evolução de Anderson Silva?
Acho que é um pouco diferente. O Anderson luta em pé como ninguém, acima da média. É um lutador bem amadurecido, ele tem mais arsenal e uma visão melhor. O Jones mistura muito bem muita coisas, muitas formas de lutar. Ele derruba mais que o Anderson.
Minotauro, Anderson, Shogun, Belfort, Wanderlei e Aldo lutaram ou vão lutar no Brasil pelo UFC. Falta você. Esse passa a ser um dos seus objetivos a partir de agora?
Claro que sim! Muito! É um dos meus grandes objetivos para agora. Com toda essa torcida bacana, que está ajudando o esporte a crescer. É um sonho.
No Canadá, o Jon Jones foi vaiado...
Pois é. Não esperava, mas a torcida estava do meu lado. Mas tenho certeza que no Brasil pode ser ainda melhor.
Qual é a sua grande meta na carreira neste momento?
Ser campeão de novo. Meu objetivo macro é esse.
Muitas lutas são sangrentas ou terminam antes do que deveriam por causa das cotoveladas no solo. No Rio, Dana White disse que isso faz parte do esporte, mas em eventos como Pride e Strikeforce elas nunca foram permitidas. O que você acha sobre isso?
Acho que a cotovelada em pé exige muita técnica, como medir distância. Agora, cotovelada no chão, não. É um golpe muito violento, mas faz parte do jogo. É difícil dar uma opinião. Pela visão da arte marcial, tem que ser permitida. Mas na visão do esporte, do entretenimento, tem que ser banido.
Como você vê a explosão do MMA no Brasil? Acha que o país é hoje o maior celeiro de talentos do mundo na modalidade? 
O Brasil é mais que um país apaixonado pelo esporte. É o maior celeiro de lutadores, forma muitos atletas. Em todos os tipos de luta. É o berço do MMA, cada lutador carrega essas raízes. Além disso, acho que tem toda uma questão genética. O brasileiro é uma grande mistura de branco, negro, índio. Saiu uma coisa boa. Além de toda a raça e malandragem que só os brasileiros têm.

Para você, quem é a principal revelação do MMA no Brasil, e quem você acha que poderia ser um novo campeão do UFC?Tem muita gente boa crescendo. Mas acho que o Glover (Teixeira), apesar de ter a minha idade, só não explodiu fora do Brasil por falta de oportunidade. Ele vai despontar assim que chegar no UFC. Vai muito longe, só não chegou ainda por questões burocráticas. Mas também tem o Yuri Marajó, que tem tudo para explodir em breve.

Você viu o vídeo do técnico do Jon Jones, Greg Jackson, mandando ele ver como você estava após o desmaio para ''ganhar mais fãs''? 

Vi essa situação quando cheguei no Brasil, pela internet. Procuro não me preocupar muito com isso. Cada um sabe o que faz. Espero que tenha ido até a mim de coração. Não dá para saber. 
Ele manteve respeito por você antes, durante e depois do combate?Sim. Foi totalmente respeitoso comigo. Foi bom a gente ter lutado. Foi um embate para a história. Às vezes, quem assiste pode achar que houve algum desrespeito. Mas ele fez o trabalho dele, me estrangulou e venceu. Não dá para pedir para ele me fazer carinho, né?
Você é um ídolo no Pará. O que você achou do resultado do plebiscito sobre a divisão do estado? Gostou do resultado?
Acho que foi bom para a gente. Todo mundo ia perder muito com a divisão. Mas também acho que temos que olhar e dar mais apoio ao interior. Mas dividir não era a solução.

Você é casado e pai de dois filhos. Pretende aumentar a família em 2012?
Não, não. Agora vou dar um tempo ou parar mesmo. Às vezes fico brincando, mas preferimos esperar agora.
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