Para muitos jovens, uma opção de lazer, mas para outros, a oportunidade de se profissionalizar em um esporte que ganha cada vez mais espaço e gera grande retorno financeiro. Na quinta-feira, 220 jovens doComplexo do Alemãoganharam uma nova perspectiva com a inauguração da sala de treinamento de artes marciais mistas (MMA) no Centro de Referência da Juventude (CRJ). A iniciativa é uma parceria da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos com a Legião da Boa Vontade (LBV) e a empresa Haiti Tatames, que patrocinaram a montagem do espaço.
A sala é equipada com piso de tatame, luvas e equipamentos específicos para a prática de luta. A intenção é treinar e profissionalizar jovens atletas para competir em torneios como o Ultimate Fighting Championship (UFC), que consagrou o brasileiro Anderson Silva, por exemplo.
- Não queremos simplesmente colocá-los para praticar esporte no contraturno da escola, mas gerar, além do social, oportunidades financeiras e educacionais. Vamos transformar o espaço em um centro de lutas, oferecendo karatê, jiu jitsu, taekowndo, boxe tailandês, luta livre, e expandir para outras comunidades. A primeira será Manguinhos, onde já atendemos a 120 jovens com aulas de muay thai – adianta o superintendente da Juventude, Allan Borges.
As aulas serão coordenadas pelo professor Robson Barbosa, o Relma, que treina lutadores de MMA há mais de 20 anos no Complexo do Alemão em um projeto informal. As turmas serão dividas em duas categorias: de seis a 15 anos e de 15 a 29 anos, sempre às terças e quintas, das 9h às 11h e das 17h às 19h30.
- Estou muito grato pela oportunidade, porque o governo olhou por nós. Através do meu projeto, já formei vários campões que competem em torneios pelo Brasil. Quero dar continuidade ao trabalho para ajudar a combater a violência nessas comunidades, educar e disciplinar essas crianças, dizer a elas que o melhor caminho é o esporte. Assim como o MMA me ajudou a não seguir pelo mundo da marginalidade, vai fazer o mesmo por essas crianças. Já temos 220 jovens inscritos e vamos atender a todos – afirma Relma.
Discípulo mais famoso de Relma, o lutador profissional André Santos Silva, conhecido como André Chatuba, acredita que essa é uma ótima oportunidade para os jovens desenvolverem suas habilidades.
- Quando era criança, minha mãe não podia pagar pelos treinos. Só entrei para o esporte aos 16 anos. Vejo nos olhos de muitas dessas crianças a vontade de treinar e espero que elas agarrem essa oportunidade com muita determinação. É uma modalidade que une valores, respeito, disciplina e ainda garante um bom retorno financeiro. Na última luta, ganhei R$ 10 mil reais. Mas é preciso ter foco e dedicação – pondera o lutador, morador da Vila Cruzeiro.
Na mesma comunidade mora o jovem Vanderson Teperino Costa, 13 anos, que pratica o MMA há seis. O sonho dele é se tornar um grande lutador e oferecer melhores condições aos pais, irmãos e a sobrinha.
- Treino três vezes por semana durante três horas e meia. Minha mãe não gosta muito e tem medo que eu me machuque, porque ela assiste as lutas na televisão. Ela só aceitou que eu continuasse porque meu rendimento na escola melhorou muito. Agora eu tenho mais concentração e responsabilidade. Espero me tornar profissional e ganhar dinheiro para tirar minha família da favela – anseia o jovem.
Patrocinador dos principais atletas brasileiros no UFC, o empresário Bony Monteiro, dono da marca Bony Açaí, acredita que a iniciativa pioneira do governo do Estado vai dar novos horizontes para jovens que não tinham perspectiva de futuro.
- Fiquei surpreso positivamente com a estrutura montada aqui, a começar pelo teleférico. Quando você implementa um projeto como esse numa comunidade, você abre um leque de opções. No futuro, algum deles pode se tornar um campeão, mas é preciso que eles saibam que só depende do esforço próprio – avalia Bony.
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