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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Campeão olímpico Rogério Sampaio elogia judô brasileiro: 'mudou da água para o vinho'


Medalha de ouro nos Jogos de Barcelona, em 1992, Rogério Sampaio foi o último judoca brasileiro a subir no lugar mais alto do pódio em uma Olimpíada. De lá para cá muita coisa mudou no judô nacional. As dificuldades enfrentadas pelo santista deram lugar a uma das melhores estruturas do esporte no Brasil, e a modalidade se firmou como a segunda que mais conquistou medalhas nos Jogos: 15 contra 16 da vela.

Após o título olímpico, o judoca seguiu contribuindo com o esporte e, em 1993, fundou a Associação de Judô Rogério Sampaio, que já revelou nomes como Mariana Silva, Leandro Guilheiro, Maria Suellen Altheman  e Bruno Mendonça, todos da atual seleção brasileira, sendo que os dois últimos treinam até hoje em sua academia.

Faltando menos de dois meses para os Jogos de Londres, entre as clínicas de judô que realiza pelo Brasil, Rogério Sampaio relembra sua conquista histórica, critica a "família Mamede", que esteve à frente da Confederação Brasileira de Judô de 1980 a 2001, e projeta um recorde de medalhas do judô brasileiro na Inglaterra.

Confira a entrevista com o último judoca brasileiro medalhista de ouro em Olimpíadas.

O que mudou no judô brasileiro do seu tempo de atleta para os dias de hoje?

Mudou da água para o vinho. Toda minha carreira aconteceu enquanto a confederação tinha a sua frente a família Mamede, e isso foi um grande mal para o judô brasileiro. A gente tinha grandes atletas mas não tinha a estrutura para ter resultados como temos hoje. Acredito que o judô tem uma estrutura para competição que não deve nada para esporte nenhum. Essa estrutura tem se transformado em vitórias, em resultados. Nossos atletas estão entre os melhores do mundo, o Brasil participa de todos os eventos pelo mundo inteiro ao longo do ano todo. Não só a equipe principal como a equipe reserva. Também existe o trabalho de base, com equipes sub 20 e sub 17 participando de torneios no exterior. Isso também nos garante a reposição de atletas de primeira linha que possam disputar medalhas olímpicas.

Como você avalia a atual fase da modalidade no Brasil?

As mulheres tiveram um crescimento muito grande por conta dessa estrutura. Acredito, inclusive, que as chances de medalha em Londres são maiores no feminino do que no masculino. Do ponto de vista de patrocinadores, a modalidade também atravessa um momento excelente, acho que o judô brasileiro é um dos que tem maior investimento se comparado a outros países. Fico feliz de ter contribuído com a minha participação para que o esporte tenha chegado a esse nível de organização e resultados que se encontra hoje.

Ao competir nos Jogos de Barcelona, em 1992, você acabou com um boicote de mais de dois anos a CBJ. O que o levou a acabar com o boicote e disputar a competição?

Graças ao Bernard Razjman, que na época era o secretário nacional de esportes, participei dos Jogos de Barcelona. Toda a seleção principal se desligou da confederação no fim de 89, a aproximadamente uma semana do Campeonato Mundial daquele ano, e só retornamos em janeiro de 92, ou seja, foram quase dois anos e meio afastado quando fizemos um acordo com a CBJ. Esse acordo foi costurado pelo Bernard Rajzman para que a gente pudesse voltar a competir em nível internacional. Esse movimento é algo que, para mim, causou dor, mas também é um motivo de muito orgulho. A dor porque estava no auge da minha carreira, aos 22 anos, e me afastei das competições. Orgulho porque não brigávamos por benefícios pessoais, pleiteávamos uma melhor estrutura para o judô brasileiro, a estrutura que se tem hoje. Acho que se os atletas assumissem um papel de liderança em todas as modalidades, teríamos uma estrutura melhor para o desenvolvimento do esporte.

Qual sua maior lembrança dos Jogos Olímpicos de Barcelona, quando você conquistou a medalha de ouro?

Me marcou muito ter particapado da cerimônia de abertura, foi uma coisa mágica. Acho que é o sonho de todo atleta olímpico participar dessa festa. A Vila Olímpica também foi marcante apesar de ter passado os dias mais descansado do que realmente passeando por ela. Tinha uma preocupação muito grande em descansar para ter um bom desempenho na competição. Durante as lutas também vivi momentos inesquecíveis, momentos de dificuldade, de alegria. A premiação, com o hino brasileiro tocando, são momentos marcantes que a gente acaba guardando para a vida toda.

Nos Jogos deste ano a seleção brasileira de judô vai ficar hospedada em Sheffield, cidade a duas horas de Londres, e só vai para a Vila Olímpica dois dias antes de competir. O que você acha dessa decisão da CBJ?

Imagino que essa decisão se deva por dois motivos. Primeiro pela dificuldade de vagas na Vila Olímpica. Depois, e mais importante, é que a Vila, apesar de maravilhosa, é oportunidade para conviver com atletas de diversos países, é uma espécie de resort, que muitas vezes leva atletas experientes a perder o foco na competição. A CBJ tem uma preocupação muito grande em manter a qualidade da preparação feita nos últimos quatro anos e fazer com que os atletas não percam o  foco. Bons resultados em Olimpíadas se traduzem em benefícios para todo o judô brasileiro.

Rogério Sampaio reencontrou Sebástian Pereira quando trabalhou como comentarista no Pan de Guadalajara - Divulgação/CBJVocê viu muitas festas na vila Olímpica, em 1992?

Me preocupei mais com o descanso do que em participar de brincadeiras, de festas. Mas a Vila tem festa, são todos atletas, jovens, bonitos, e depois da competição querem comemorar, festejar, e algumas vezes pode criar um conflito para aqueles que ainda não competiram.

A medalha de ouro mudou sua carreira, sua relação com os patrocinadores?

Patrocinador é algo sempre muito difícil, mesmo para um campeão olímpico, ainda mais naquela época. Penso que reconhecimento profissional é algo que se busca toda a vida e para mim ele veio muito cedo, quando eu tinha 25 anos, quando fui ouro em Barcelona. Isso me ajudou a abrir muitas portas e até hoje facilita muita coisa profissionalmente. Mas uma coisa é abrir as portas, outra coisa é o trabalho que tem que ser feito. Até hoje trabalho muito, saio de casa às 7h30m e  as vezes só retorno às 20h, isso de segunda a sábado, as vezes domingo. Não é uma medalha olímpica que vai fazer com que o atleta fique de papo para o ar o resto da vida, tem que utilizar isso para potencializar o trabalho que a gente desenvolve.

Você se sente reconhecido após fazer tanto pelo judô?

As pessoas sempre foram muito carinhosas comigo. Moro em santos e até hoje as pessoas tem um carinho muito grande por mim. No judô brasileiro também existe esse reconhecimento. Mas fui campeão olímpico há 22 anos, já faz muito tempo, e foi em uma época que não havia internet no Brasil, a TV a cabo tinha acabo de começar, não tinha Twitter, Facebook, câmera digital, então isso tudo faz com que a gente, aos poucos, vá caindo no esquecimento. Não me sinto esquecido, pelo contrário, as pessoas tem carinho por muito e sou muito agradecido por isto.

Qual o seu palpite para a participação do judô brasileiro nos Jogos de Londres?

Acho que o Brasil vai trazer de quatro a seis medalhas e acredito que possa ganhar até mais que uma medalha de ouro (a melhor participação do judô foi em Pequim 2008, quando conquistou três bronzes). A única coisa que me preocupa é que os Jogos Olímpicos têm um componente emocional muito forte, e esse componente muitas vezes define a diferença entre a medalha de ouro e um oitavo, nono, décimo lugar. Nos Jogos o equilíbrio é muito grande, as vezes o campeão mundial nos últimos três anos, pode ser superado e pode não conquistar uma medalha por causa desse componente emocional.

Que conselho você daria aos brasileiros que vão lutar em Londres?

Nossos judocas conquistaram resultados expressivos nos últimos anos e muitos estão entre os primeiros colocados no ranking mundial. Não podemos nos acomodar. Temos que ser humildes para saber no que podemos melhorar. Temos que treinar até o último dia.
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