Se Anderson Silva — campeão do peso médio do UFC e considerado melhor lutador de MMA do mundo — vai para a briga, ele chama Dórea. Os irmãos Minotouro, Minotauro e o peso pesado do UFC Júnior Cigano praticamente moram na academia do baiano, a Champions, montada na garagem de sua casa, em Salvador. Recém-campeão no Mundial de Boxe, Everton Lopes também treina com Dórea.
Isso sem contar que, nos dois últimos ciclos olímpicos, o baiano foi o técnico da Seleção Brasileira da modalidade e, provavelmente, também estará em Londres. “Classificamos três atletas no Mundial para as próximas Olimpíadas — Everton Lopes, Robson Conceição e Esquiva Florentino. E ainda teremos muitos mais lutadores em Londres, com certeza”, orgulha-se Dórea, em entrevista ao Correio.
O baiano respira boxe desde os seus 14 anos, quando começou treinar a modalidade por influência de um vizinho. Ao assistir a uma de suas lutas e vê-lo sagrar-se campeão do Norte-Nordeste, o baiano decretou: iria ser pugilista também. Em quatro meses de treino, já estava enfrentando adversários no ringue e ganhando de todos. No início, encontrou resistência do pai, mas, depois, o talento e o sucesso no boxe fizeram com que ganhasse a permissão para continuar. Foi campeão baiano, do Norte-Nordeste, brasileiro duas vezes e mundial em 1986.
A vida como treinador começou após seu técnico morrer, em 1988. “Fiquei sem ter como lutar e aí decidi abrir uma academia na minha garagem para treinar apenas. De repente, o lugar começou a encher e, em 1992, já tinha o Luiz Carlos de Freitas treinando comigo. Ele ganhava de todo mundo”, lembra Dórea. Com o tempo, a academia, batizada de Champions porque era como Luiz era chamado pelos amigos, ganhou fama de ser um celeiro dos melhores boxeadores do país.
Foi lá que Popó, sob os olhares de Dórea, aprendeu sua técnica afiada e se tornou um dos melhores atletas brasileiros na modalidade. “Tenho duas estrelas desenhadas na academia. Uma representa o meu título mundial, e, a outra, o de Popó. Agora, vou colocar mais uma lá para homenagear o Everton Lopes”, conta.
Neste bate-papo, Dórea explica como começou a exportar seus conhecimentos de boxe para os lutadores de MMA, falou sobre um de seus pupilos mais talentosos, o atleta Júnior Cigano, que tentará conquistar o cinturão dos pesos médios do UFC em novembro, contra Cain Velazquez, e comentou sobre o futuro do boxe olímpico brasileiro.
Ligação com o esporte da moda “Conheço o Rodrigo (Minotauro) desde quando ele tinha 15 anos, antes de treinar jiu-jítsu. Na época, vi que ele tinha talento. Ele disse que queria ser lutador e eu o trouxe para a Champions. Porém, com 19 anos, ele decidiu ir dar aulas de jiu- jítsu nos Estados Unidos e depois foi para Japão, onde virou lutador do Pride. Em 2002, voltamos a nos falar, ele me ligou e o chamei para treinar boxe de novo. Por causa dele, veio o Minotouro e depois todos os outros: Anderson, Vítor, Demian…Estou no boxe há 32 anos e, agora, há nove no MMA também.”
Adaptação para o octógono“O boxe ensina esses lutadores a se deslocarem, a entrar no raio de ação e sair. Ensino muito a eles a movimentação da pernas e a velocidade dos golpes olímpicos com a contundência dos socos do boxe profissional. E tem dado muito certo. Estudo boxe bastante e sempre estou tentando aprimorar alguma coisa.”
Júnior Cigano “Estou com o Cigano há cinco anos. Quando ele veio, já era faixa azul de jiu-jítsu e disse: quero ser lutador. E eu respondi: então, primeiro, vamos aprender e melhorar o seu boxe. Hoje, o Cigano é o melhor boxeador do MMA. Ele tem tanto talento e evoluiu de tal maneira que poderia representar o Brasil nas Olimpíadas nos pesos pesados. Ele, na verdade, tem esse sonho, quer ganhar uma medalha olímpica. O problema é que não tem muito tempo para fazer isso por causa das lutas do UFC.”
A luta contra Cain Veslasquez “O Cigano está preparado para ser campeão. A trajetória dele é meteórica. Em cinco anos, já vai disputar cinturão. Ele evoluiu muito, é um cara humilde e está treinando duro aqui comigo de domingo a domingo para ganhar essa luta. O Cain é um excelente atleta, com ótimo wrestling, mas o Cigano, não tenho dúvida, vai ganhar e trazer esse cinturão para gente. E a vitória será por nocaute.”
Segredo do sucesso
“Sinceramente, acho que isso é reflexo do meu amor pelo esporte e da nossa equipe, que é uma família. A maioria dos atletas começa desde criança comigo, então sou como um pai para eles. Acho que só tenho sucesso porque faço o que amo. Passo dias fora de casa, viajando, não tiro férias há 20 anos e sempre estou preocupado e treinando algum atleta que está prestes a lutar: sai o Minotauro, vem o Minotouro, sai o Minotouro, vem o Cigano, e assim segue. É uma loucura, mas é o que eu gosto. Hoje, somos uma potência no boxe e temos muitos talentos aqui.”
Conquistas
“Sempre fico emocionado com cada vitória dos meus lutadores, seja num título mundial, seja no campeonato baiano, por exemplo. É isso que me motiva a continuar treinando. A gente sabe a dificuldade que é fazer um esporte como boxe, que é de contato, duro, e por isso é tão gratificante quando eles ganham e fazem por merecer.”
Assédio dos lutadores
“Recebo muitas propostas para sair daqui da Bahia e ir para os Estados Unidos, mas a minha base é aqui. Posso até passar uma temporada lá, treino, mas volto para cá. A base dos meus atletas é toda feita na Champions. Muitos vêm passar um tempo comigo aqui e depois voltam para suas cidades.”
Futuro do boxe
“O boxe não vai acabar nunca. O que caiu um pouco foi o boxe promocional, mas o olímpico está muito bem. Hoje, temos incentivo do governo federal e estamos colhendo frutos. Temos muitos talentos promissores, como o Robson, Everton, Pedro Lima, entre outros. O Brasil é uma potência. Meu sonho é uma medalha olímpica e nós vamos trazer de Londres.”
fonte:
http://www.superesportes.com.br/app/19,66/2011/10/13/noticia_maisesportes,24287/conheca-mais-sobre-luiz-dorea-mentor-das-feras-do-mma.shtml
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