Jovem Michael Oliveira vai encarar seu ídolo Popó, que fará luta de despedidaFoto: Léo Pinheiro/Terra
Então com 13 anos, Michael Oliveira acompanhou a vitória de Acelino "Popó" Freitas sobre o argentino Jorge Barrios, um dos combates mais importantes da carreira do tetracampeão mundial, realizado nos Estados Unidos em 2003. Após vibrar com o nocaute, o garoto, morador de Miami, ainda foi aos vestiários para pedir um autógrafo ao pugilista que resolveu desafiar nove anos depois. Sarcástico, o baiano compara seu rival deste domingo a um famigerado assassino.
"Ele está igual ao fã do John Lennon, que pediu um autógrafo e atirou nele. Naquela época, eu nem me lembro dele, porque era obeso, pesava 111 quilos (Michael começou a treinar boxe para emagrecer)", provocou Popó em entrevista. "Nem me lembro dele e para mim parece esse fã do John Lennon: diz que idolatra e depois quer bater. Parece que quer repetir a história", completou.
O ex-beatle John Lennon foi assassinado por Mark David Chapman na noite de 8 de dezembro de 1980, aos 40 anos. Horas antes de atirar contra o músico em frente ao Edifício Dakota, em Nova York, o indivíduo, atualmente em prisão perpétua nos Estados Unidos, ganhou um autógrafo do astro em uma cópia de seu recém-lançado álbum, Double Fantasy.
Aos 22 anos, Michael se diz surpreso com a situação inusitada de enfrentar o antigo astro e admite que, na época do combate diante de Barrios, era apenas mais um admirador do pugilista baino. "Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. O Popó, para mim, era um ídolo. Vou mostrar a ele que o futuro do nosso esporte no Brasil está em boas mãos", discursou. Os meses que antecederam o confronto foram marcados por uma série de provocações. Antes mesmo da confirmação do combate, Popó deu a entender que Michael Oliveira já "comprou" adversários para vencer - a luta do jovem contra o dominicano José Soto, realizada em São Paulo no mês de julho de 2011, foi encerrada com um golpe no corpo e causou polêmica.
"Não quero entrar nesses detalhes, mas a gente, que luta boxe, sabe o lado que o adversário deve cair quando toma um determinado golpe. A luta contra o argentino (Abel Adriel) foi bem contestada. Na outra luta que fez (contra Soto), ele deu um golpe que o adversário deveria cair para um lado, mas caiu para o outro. Teve algumas coisas assim", declarou o veterano.
Questionado sobre a insinuação, Michael Oliveira rebateu de forma provocativa. "Vamos ver para que lado o Popó vai cair. Depois, a gente pergunta para o meu próximo adversário se ele caiu para o lado certo", afirmou, procurando evitar maiores polêmicas. "Sou diferente e não gosto muito de falar. Mas já disse e repito: todo mundo fala o que quer até levar um soco". Ainda que tenha considerado alguns combates de Michael suspeitos, Popó diz não temer qualquer episódio do gênero neste final de semana, já que a luta será transmitida ao vivo pela televisão. Irreverente, o baiano desdenha do apelido de "Brazilian Rocky", adotado pelo jovem em alusão ao ex-boxeador norte-americano Rocky Marciano, campeão dos pesos pesados que encerrou a carreira de forma invicta.
"Isso é coisa de marqueteiro. Ele pode até ser parecido com um marciano, mas está longe do Rocky. Nem tem vale-transporte e já quer sentar na janelinha do ônibus. Eu acho que ele está intimidado desde que me desafiou. Apoiou-se nessa coisa de marketing e ficou com esse discurso até agora. Eu não acredito que essa luta vá acabar por pontos. Mas, se acabar, o Michael vai ser bem machucado do ringue", disse Popó.
No início da carreira, Michael era chamado de "Chairman of the Board" (Presidente do Conselho), um dos apelidos do cantor Frank Sinatra, que o jovem resolveu tatuar do lado esquerdo do peito. No começo de 2011, no entanto, para evitar problemas de direitos autorais com os representantes do artista norte-americano, o estafe do brasileiro resolveu adotar o Brazilian Rocky, colocado à prova na madrugada de domingo.
O documentário "Para Sempre Popó - A Última Luta do Campeão", publicado no You Tube, mostra a preparação de Acelino Freitas para o combate de despedida diante de Michael Oliveira. Apesar de sua trajetória ter um enredo parecido com o último filme da saga de Rocky Balboa, o baiano rejeita a comparação.
Ex-campeão do mundo entre os pesados, o personagem de Sylvester Stallone vive esquecido e administra o restaurante italiano com o nome de sua finada mulher, Adrian. Na trama, o atual detentor do título é o jovem Mason Dixon, que não tem a mesma popularidade do "Garanhão Italiano" entre o público.
Diante do marasmo em torno de Dixon e seus adversários, um simulador o coloca frente a frente com Rocky Balboa. Em meio à grande expectativa criada, o personagem de Stallone aceita o desafio e faz um combate épico com o jovem lutador, do qual sai derrotado, porém ovacionado pelo público.
"É totalmente diferente. Pode até ter comparação, mas não com a idade ou com o que acontece na minha vida. Eu não estou com a mesma idade do Stallone", brincou Popó. "A minha vida sempre foi uma realidade e mantive a mesma preparação dos grandes campeões", completou o baiano.
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